Mas será que Proust realmente descreveu com precisão como nossa memória funciona? A ciência tem algo a dizer sobre isso — e é exatamente o que uma análise fascinante de Emily Troscianko explora.
A famosa cena da madeleine
Na obra-prima de Proust, o narrador prova um pedaço de bolo madeleine mergulhado no chá e, de repente, memórias vívidas da infância vêm à tona. Sem saber de onde exatamente vem essa emoção avassaladora, ele tenta resgatar a origem daquela lembrança.
Essa cena se tornou o símbolo clássico da chamada memória involuntária — aquela que surge sem esforço consciente, apenas a partir de um estímulo sensorial como um cheiro ou sabor. Mas será que essa memória é realmente involuntária do ponto de vista científico?
O que Proust acertou (e a ciência confirma)
Segundo Troscianko, há sim uma base real na descrição de Proust. Sabores e aromas são, de fato, muito poderosos para despertar lembranças emocionais. Isso acontece porque, neurologicamente, o olfato e o paladar acessam diretamente áreas do cérebro como o hipocampo e a amígdala, ligadas à memória emocional — sem passar pelo tálamo, como os outros sentidos.
Além disso, memórias evocadas por cheiros tendem a vir de períodos mais antigos da vida (geralmente da infância) e são intensamente emocionais, porém difíceis de verbalizar — exatamente como o narrador descreve ao se deparar com a madeleine.
Outro detalhe interessante: essas memórias costumam surgir quando estamos cansados ou distraídos, o que também bate com o estado de espírito do narrador na cena em questão.
O que Proust errou, segundo a neuropsicologia
Por outro lado, a obra literária exagera em alguns aspectos. Proust sugere que apenas o gosto e o cheiro são capazes de evocar esse tipo de lembrança profunda. No entanto, estudos mostram que memórias involuntárias também são frequentemente provocadas por palavras, sons, imagens — não só pelos sentidos do paladar e do olfato.
Além disso, embora as lembranças despertadas por cheiros sejam emocionantes e vívidas, elas não costumam ter o nível de detalhamento que Proust descreve. Na vida real, as memórias tendem a ser mais fragmentadas, menos cinematográficas.
E há um ponto crucial: na cena da madeleine, o narrador esforça-se para recuperar a lembrança. Ele tenta várias vezes, por minutos, até finalmente conseguir. Isso não se encaixa exatamente na definição científica de memória involuntária, que acontece de forma imediata e sem esforço consciente. Ou seja: o momento mais famoso da literatura sobre memórias involuntárias talvez… não seja uma memória involuntária de verdade.
Afinal, Proust era ou não um neurocientista?
Apesar de Proust ter declarado que seu livro trata justamente da diferença entre memórias voluntárias e involuntárias, estudiosos como Troscianko e o psicólogo Charles Fernyhough (autor de Pieces of Light: The New Science of Memory) defendem que ele interpretou mal sua própria cena.
A ironia? O chamado "momento proustiano", na verdade, não seria proustiano no sentido técnico do termo.
Mas isso tira o mérito literário da obra? De forma alguma. Proust pode não ter sido um neurocientista, mas sua sensibilidade para captar a complexidade da mente humana ainda impressiona — e continua a inspirar tanto leitores quanto cientistas.
À Procura do Tempo Perdido: “Para o lado de Swann” — O Início da Jornada Literária de Marcel Proust
À Procura do Tempo Perdido (em francês, À la recherche du temps perdu) é uma das maiores obras da literatura mundial, escrita por Marcel Proust, autor francês do século XX. O primeiro volume da série, “Para o lado de Swann” (Du côté de chez Swann), é uma porta de entrada fascinante para esse universo literário, onde memória, tempo e sensação se entrelaçam de forma única.
Sobre o livro “Para o lado de Swann”
Neste volume, Proust inicia sua exploração do tempo e da memória, apresentando o narrador — uma versão ficcional do próprio autor — e o misterioso Charles Swann, um aristocrata parisiense. A narrativa é marcada por uma escrita detalhista e introspectiva, que vai muito além de uma simples história, mergulhando profundamente nas emoções, pensamentos e lembranças.
A famosa cena da madeleine, que desencadeia uma enxurrada de memórias involuntárias, é um dos momentos mais icônicos do livro. Essa passagem ilustra o conceito central da obra: como pequenos estímulos sensoriais podem conectar passado e presente de forma poderosa.
Por que ler “Para o lado de Swann”?
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Imersão na memória e no tempo: Proust mostra como nossas lembranças moldam nossa identidade e percepções do mundo.
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Narrativa rica e profunda: A escrita minuciosa permite que o leitor vivencie sensações, emoções e atmosferas com uma intensidade rara.
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Base para entender toda a obra: É o primeiro passo para apreciar o desenvolvimento dos temas que percorrem os sete volumes da obra-prima de Proust.
Outras obras de Marcel Proust
Além de Em Busca Tempo Perdido, Proust publicou ensaios, críticas literárias e trabalhos sobre arte e filosofia. Contudo, sua fama está centrada em sua monumental obra que revolucionou a literatura moderna, influenciando escritores e pensadores em todo o mundo.
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Referência: Texto traduzido e adaptado por Lady Cafezinho a partir do artigo Was Proust really a neuroscientist? publicado no blog The British Psychological Society. Fonte original: Troscianko, E. (2013). Cognitive realism and memory in Proust’s madeleine episode. Memory Studies. DOI: 10.1177/1750698012468000.
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